quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sofie e a Piscina

Revista Cães & Cia, n. 364, setembro de 2009

Fabio não aguentava mais a tara da Labradora Sofie - ir diretamente para a piscina toda vez que a soltavam no quintal. Era difícil tirá-la de lá, ela entrava molhada em casa e, para piorar, não deixava as visitas curtir a piscina. Fabio queria que Sofie somente nadasse quando fosse autorizada por ele. Procurou o Dr. Pet, quadro dominical de TV da Record. Alexandre Rossi, que é o Dr. Pet, topou tentar realizar o desejo de Fabio no prazo que lhe é concedido pelo programa: uma semana
Paixão por água
Muitos cães são loucos por água, especialmente os de raças como o Labrador, selecionadas para nadar e buscar objetos na água. É normal que esses cães se apaixonem por piscinas, poças de água, esguichos, etc. A tara, porém, incomoda alguns proprietários e aumenta a chance de o cão desenvolver otite e dermatite, por ficar úmido por muito tempo.

O desafio

Se, por um lado, uma das melhores coisas do mundo para um Labrador é poder nadar e brincar com água, por outro, para Sofie continuar a desfrutar dessas atividades, era preciso mudar o comportamento dela de modo que só pulasse na piscina quando Fabio permitisse. Foi esse o desafio que me foi proposto. No papel de Dr. Pet, em meu quadro dominical na TV Record, eu tinha uma semana de prazo para conseguir resultados.

Labradora elétrica

Sofie é daqueles Labradores alucinados, que parecem estar ligados no 220 V. Ela quase derrubou o pessoal da produção, roubou um pãozinho do churrasco da mesa enquanto a equipe tentava pegá-la, entre outras travessuras. Mas, por mais estranho que possa parecer, cães com tanto pique são ótimos de treinar. Com a energia que têm, as sessões de treino podem se estender por mais tempo, e isso ajuda bastante, já que a maioria dos exercícios precisa ser repetida numerosas vezes. Logo ficou claro que Sofie estava disposta a ser treinada por horas – o problema era aguentar o pique dela!

Estabelecer área-limite

A primeira etapa do treino foi definir uma área em volta da piscina além da qual Sofie não deveria passar sem autorização. Esse tipo de limitação facilita o treino, pois permite impedir o cão de pular na água cada vez que ele erra. Como a borda da piscina do Fabio é mais alta que o piso e bastante larga, essa foi a opção adotada para ser a área-limite.
Para Sofie entender que não devia pisar na borda, o treino foi iniciado conduzindo-a em volta da piscina, atrelada a uma guia com enforcador. Sempre que pisava na área-limite, ela era repreendida com um tranquinho. Aos poucos, foi entendendo que não devia pôr as patas lá.
Em seguida, para aumentar a vontade de Sofie pisar na borda, começou a ser colocado um petisco perto da margem da piscina. Sempre que ela não tentava pegá-lo, era recompensada com um brinquedo, carinho ou petisco. No primeiro dia de treino, ela já estava craque.

Permissão para entrar

Resolvi usar um apito como maneira de sinalizar para Sofie que ela podia entrar na piscina. O objetivo era adotar um método de comando que não fosse confundido com palavras.
O treino inicial foi jogar uma bolinha fora da piscina. Sempre que Sofie tentava buscá-la sem o toque do apito, era impedida de ir, sendo segurada com a guia até o apito soar. Sofie entendeu muito rapidamente que quando o apito era tocado podia buscar a bolinha em qualquer lugar, inclusive dentro da piscina.
Depois a bola passou a ser jogada dentro da piscina. No início, Sofie ficava em dúvida sobre o que fazer, mas a insegurança foi resolvida com umas 20 repetições do treino.

A força dos acessórios

Fabio ficou incumbido de continuar a praticar com Sofie sem a nossa presença. E três dias depois voltei com a equipe para observar a evolução.
Como teste, usei um dos estímulos de que Sofie mais gosta: bolinha de tênis. Ela ficou posicionada ao lado de Fabio, com a guia e o enforcador colocados. Caso tentasse pular, Fabio estava preparado para segurar a guia e impedi-la - procedimento correto por se tratar de treino.
Joguei a bolinha no meio da piscina. Sofia mostrou-se tensa, mas não pulou - continuou do lado de Fabio, o qual ficou extremamente orgulhoso.
Depois, o enforcador foi retirado de Sofie e repeti o teste. Sentindo-se completamente livre, ela saltou imediatamente na água - havia relacionado a restrição de entrar na piscina com o uso dos acessórios. Sofie ficava nadando com a bolinha na boca e arranhou o cinegrafista que estava na água para coletar imagens subaquáticas. Foi ele quem nos ajudou a tirá-la da piscina, tarefa nada fácil para quem está do lado de fora.
Simulando superpoderes
Preparar Sofie para obedecer, independentemente de ela estar ou não portando guia e enforcador, foi a nova tarefa que passei para Fabio. Para tanto, os acessórios foram mudados assim como o método do treino. Substituí o enforcador pesado e de metal e a guia larga e pesada por outro enforcador, de tecido leve, e adotei como guia uma cordinha longa, também leve. O exercício passou a ser jogar bolinha na água e, sempre que Sofie tentasse entrar na piscina, impedir abruptamente que isso acontecesse.
Nas primeiras vezes, assim que a bolinha era jogada, Sofie tentava ir direto para a piscina e tomava um susto com o tranco do novo enforcador. Acredito que, por se sentir totalmente livre, ela começou a achar que superpoderes a estavam controlando a distância.
Restavam poucos dias para Fabio treinar Sofie antes do teste final. É muito bacana ver a dedicação das pessoas envolvidas com o quadro Dr. Pet. Acho que Fabio nunca tinha interagido tanto com Sofie. E ela estava tendo dias especiais. Podia ficar correndo pelo gramado, coisa que estava proibida de fazer na fase em que quase sempre pulava na piscina.

Vencendo a maior tentação

No sétimo dia, novamente o “circo” estava montado, com toda a equipe do programa presente, tanto fora da piscina quanto dentro dela com câmera subaquática.
Tirei de Sofie o enforcador de tecido, deixando-a completamente livre, posicionada ao lado de Fabio. Joguei a bolinha no meio da piscina. Sofie ficou vidrada, mas, para nossa alegria, não pulou na água. Dei os parabéns.
Como sempre gostei de desafios, preparei-me para submeter Sofie a uma situação extremamente tentadora: dois patos mansos, acostumados com cães. Patos são um grande estímulo para Labradores, pois buscá-los na água era a função original da raça. Se Fabio conseguisse controlar Sofia nessa situação, certamente conseguiria controlá-la em qualquer outra situação.
"Convidei” os patos para entrar na piscina. Eles pareciam muito confortáveis, deram até alguns mergulhos. Novamente, para nossa alegria, Sofia, mesmo completamente solta, não pulou atrás deles. Parabéns para Fabio e Sofie! E se ela tivesse pulado? A equipe estava totalmente preparada para garantir a segurança de todos, principalmente a dos patos.
A seguir foi a vez de testar se Sofie atendia à permissão para entrar na piscina (sem patos, é claro). Só de Fábio colocar o apito na boca, Sofie já ficava pronta para pular na água, à espera do som. Dava gosto de ver!

Manutenção necessária

Para Sofie continuar a respeitar seu limite, será preciso manter o treinamento. Ou seja, Fabio precisará de vez em quando colocar nela a guia longa de corda com enforcador de tecido e estimulá-la a entrar na piscina, para que possa ser repreendida ou recompensada. Torço para que ele se dedique. Assim, Sofie e Fabio poderão desfrutar sempre da piscina e do jardim, em harmonia.

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